sábado, 15 de maio de 2010

Uma Jóia, Um Demónio e uma Esperança - 100 x 100 - 2010


Crónicas de um Labirinto XIII - Uma Jóia, um Demónio e uma Esperança

A JÓIA…

Encostei a minha boca ao seu ouvido e murmurei:

“Fiz tanta coisa para não depender de ti e no final acabei por depender de ti…”

(Um tempo antes…)

Aprendi a estudar expressões, aprendi a olhar as pessoas e tentar sentir se estão firmes ou se a instabilidade tomou conta da pessoa.
A “Jóia” amava provocar-me com gestos, sabia que eu não aguentava ficar mudo.
Há expressões que não enganam por muito disfarce com que se tente iludir e aí eu descodificava tais enganos.
Com esta, “Jóia” abriu-se uma porta de inquietações, uma verdadeira delicia facial, uma floresta de olhares e de movimentos e foi aí que tudo aconteceu…um brilho expressivo penetrou em mim, como um raio cintilante, como uma faca que me ia ferir e me empurrar contra a parede.
Falar da “Jóia” é falar da vida, do ar que respirei, do amor que senti, do afecto que dei, e da mão que ofereci sem pedir nada em troca, sem cobrar qualquer retorno. A “Jóia” era o sonho mais lindo, a luz de um corpo, a verdura de uma alma, um sabor viciante e único, uma oferenda de calor e de prazer…um Mundo dentro de um outro Mundo…um Mundo que era o meu.

O DEMÓNIO…

(Um tempo depois…)

Os demónios costumam ter olhos pretos mas este demónio tinha olhos verdes…Mais matreiro e com frieza mortal nos actos…o lado expressivo multifacetado, transformado…o pacto com que?… tanta insegurança, a traição, o desejo proibido…a magia obscura, a reza em estatuas de barro e gritei:

“Não quero jogar mais o teu jogo do desprezo, ele faz doer e muito”

A expressão gélida, de um Demónio instável, inconstante e frio de coração.
Gritei novamente:

”Deste-me tudo o que tinhas, eu não quis nada, e nem te perguntas porquê?”

Sabia bem que este Demónio se escondia dentro dele próprio e as palavras frias que lançava eram setas gélidas que me cegavam e incutiam medo num constante crescente
Gritei de novo!...

“Passamos a vida a ferir-nos uns aos outros e a ver quem magoa mais e como…”

Como se isso fosse importante aos olhos de um Demónio que mastiga beijos e os cospe por entre dentes manchados de sangue de um inocente que apenas queria um pouco de afecto iludido por um beijo doce enfeitiçado por um amor às escondidas.
Demónio louco, de duas caras, que me fizeste ter prazer como nunca, rasgas-te por dentro, arranhaste-me por fora, na cegueira que me fugia por entre as mãos, a cegueira que eu queria ter…

A ESPERANÇA…

(Sem dia certo…)

Um pássaro veio ter comigo, pousou na minha mesa e comia as migalhas que eu deixava cair de propósito. Olhei para ele e disse-lhe:

“Fazias-me voar, acreditava mesmo que o conseguias fazer…”

Resmunguei…afinal não era mais do que um pássaro procurando sobreviver.
Aquele pássaro estava a ficar gordo de tanto carinho que lhe estava a dar, fiz um gesto com um dedo e ele voou.
Algo mantinha-me quente interiormente, as palavras às vezes não saem com facilidade, muitas das vezes saem lentamente, mais lentas que a nossa expiração, (como uma injecção letal) eu já não sabia qual era a cor da “Jóia”, já nem sabia sequer se era uma “Jóia”que chorou a conta gotas e mesmo tendo o sabor das lágrimas na minha boca, fiquei sem saber se eram lágrimas de despedida sentida ou se eram lágrimas de satisfação por eu partir… Não me enganei, eram lágrimas secas com um sabor amargo, se fossem doces tinha-me pedido para as engolir, só que era como engolir um veneno de perdão, um perdão sem perdão.
No dia seguinte achei a chave para sair da loucura que era incontrolável. Alguém me disse, que a vida estava ao virar da esquina e que, se começasse a andar sem olhar para trás, num passo acelerado, iria descobrir que o novo Mundo estava para lá dessa curva.
Há coisas que já não faziam sentido, razões que já não eram razões, eram apenas destruições de um ser que precisava de voar, se libertar de uma fantasia…
Ouvi uma voz:

“Vai louco, Homem, corre, a vida espera-te!...outra fantasia te espera”

É verdade, tudo não foi mais do que uma fantasia…já nem acredito que um dia foi verdade!...murmurei em silêncio:

“Não era só o meu corpo a matar a sede, a alma era lavada, o espírito se elevava…hoje as necessidades são as mesmas.

Texto de Tó Luís para a pintura: “Uma Jóia, Um Demónio e uma Esperança”, qualquer semelhança é pura coincidência.
2010

A ESPERANÇA...


A JÓIA...


O DEMÓNIO...


Folhas Brancas - A JÓIA, Folhas Vermelhas - O DEMÓNIO, Janelas com o Céu Azul e Folhas Verdes - A ESPERANÇA


sábado, 17 de abril de 2010

Projecto:"CRÓNICAS DE UM LABIRINTO",está no fim...esta pintura é a 13ª do projecto que agora vai ter o seu fim, (Uma Jóia, Um Demónio e uma Esperança)

Depois de finalizar esta pintura irei parar para pensar...se devo de voltar a pintar...e o quê!!!

No dia 1 de Maio vou pintar ao ar livre no Parque Natural de Montachique, irei ter um encontro com a natureza para terminar duas obras.
Se enventualmente alguém andar a passear por aqueles lados e verem alguém a pintar sou eu... podem parar o carro e vir-me cumprimentar e naturalmente falar um pouco de arte e não só... Nesse espaço junto a umas ruinas no Cabeço de Montachique, vou finalizar este trabalho, assim como um outro que tenho em marcha, até lá não vou fazer nada...
Tó Luís